Acolhimento aos alunos e adequação de currículos são alguns dos desafios na volta às aulas

A integração entre as aulas presenciais e não presenciais será um dos principais desafios no processo de volta às aulas presenciais em todos os níveis da educação. Esta é a opinião do presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), Luiz Roberto Curi, que nesta quinta-feira (9) falou no webinar Horizontes da Educação sobre o Parecer 11/2020, aprovado no última terça-feira (7) por unanimidade no CNE e que está em vias de homologação no Ministério da Educação.
“A perspectiva da presencialidade não pode se dar de forma disruptiva com a não presencialidade. Tem que haver uma boa integração entre a presencialidade e a não presencialidade”, alertou Curi, enfatizando ainda que os conteúdos oferecidos aos alunos que participarem remotamente terão que ter a mesma qualidade daqueles recebidos por quem em está em sala de aula.
O presidente do CNE ressaltou ainda que outra importante recomendação do parecer diz respeito ao acolhimento aos alunos. Ao citar pesquisa apontando que cerca de 30% das famílias entrevistadas “interpretam como possível a desistência de seus filhos de permanecerem nas escolas”, Curi destacou que as instituições de ensino precisam criar politicas de atração e bom acolhimento na escola, inclusive do ponto de vista psicológico, cuidando ainda para que não haja punições como a reprovação. “Os estudantes estão combalidos com esse processo e não podem sofrer mais. Estamos cuidando de acolhê-los nesse momento de forma mais ampla, inclusive colocando a reposição na perspectiva desse acolhimento, na perspectiva do reaproveitamento do que não pôde ter sido aproveitado em determinadas realidades, em determinadas redes, para que também se evite a reprovação, para que haja uma perspectiva de aproveitamento amplo”.

Do ponto de vista curricular, o conselheiro destacou que haverá um “contínuo” entre os calendários de 2020 e 2021 onde os conteúdos  que, pelas normas existentes para cada ano, deveriam ser entregues em 2020 serão recuperados em 2021.
“O currículo é essencial nessa estratégia, seja para provocar uma interação adequada entre 2020 e 2021 tecendo soluções e interações não segmentadas entre conteúdos a serem repostos e o próprio início do ano de 2021. É fundamental que essa questão de integração dos currículos se dê de maneira harmônica, de modo a ampliar esse processo de aprendizagem e não comprometendo o ano de 2021”.
O conselheiro Eduardo Deschamps, que também participou do webinar, apontou alguns impactos produzidos pela pandemia do coronavirus na educação e que Parecer 11 busca amortecer. “O primeiro impacto é o retrocesso de aprendizagem”, diz, apontando dados que mostram que o aluno não “estaciona” no nível de conhecimento adquirido até então, mas sim “retrocede”, daí a importância da recuperação de conteúdos. “O segundo aspecto é a perda de vínculo com os professores e a instituição de ensino, seja escola ou universidade. Por isso, a tendência de ter não renovação de matrículas no segundo semestre é real, mesmo com os esforços que estão sendo feitos por instituições de ensino e pelos agentes públicos”.
Deschamps comentou ainda que, embora os impactos verificados no Brasil sejam muito semelhantes aos vivenciados no resto do mundo, o país enfrenta situações mais delicadas e difíceis, porque “as desigualdades no brasil são maiores”.
O presidente do CNE afirmou que o parecer atual é uma continuidade do Parecer 5/2020, publicado em maio e busca manter os seus princípios básicos, como a “admissão das autonomias dos sistemas, das redes e das instituições, independente dos níveis de ensino ou da sua organização acadêmica”. Desse modo, destacou, o conselho busca organizar um conjunto de orientações e normas capazes de dialogar com as orientações e normas das instituições educacionais ou dos sistemas.
“Buscamos duas coisas fundamentais: salvar vidas, manter preservadas as fragilidades dos jovens e crianças e ao mesmo tempo manter viva as formas de aprendizado, o contato com a escola e a frequência didática adequada”, concluiu.
Mediador do debate, o presidente do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB), Waldemiro Gremski, destacou que “a pandemia trouxe grandes mudanças em todas as áreas da sociedade e a educação foi um dos segmentos mais afetados. A resposta das instituições de ensino e pesquisa tanto no nível básico como superior foi buscar não interromper o processo de aprendizagem de seus alunos”. De acordo com o reitor, a maioria absoluta das escolas migraram “em pouquíssimo tempo, alguns dias” para o ensino remoto.
Gremiski lembrou que a realidade porque passa o Brasil é observada mundialmente em mais de 150 países, com aproximadamente 300 milhões de alunos recebendo formação remota. “Tudo isso, como era de se esperar gerou inúmeros questionamentos, todos muito desafiadores sobre o futuro”, comentou, ao justificar a importância do webinar.

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