Como será o novo normal na Educação

A pandemia introduziu em debates acadêmicos e nas rodas de conversa a expressão “novo normal”. A crise vem obrigando a todos, no mundo inteiro, a adotarem um novo modelo de comportamento.
No campo do trabalho, a alternativa de home office começa a mostrar-se eficaz, inclusive aumentando a produtividade das empresas. Reuniões tem acontecido com êxito em plataformas eletrônicas. As pessoas descobriram que é possível conciliar o trabalho doméstico com as atividades profissionais. O trânsito melhorou e a polução diminuiu no mundo inteiro.
Na educação, os especialistas dizem que muitas das mudanças impostas pela tragédia do coronavírus às instituições de ensino são irreversíveis também.
“Não podemos ter o sonho de que acabando a pandemia, vamos voltar ao que era antes. O que era antes não existe. O que existe hoje é o novo normal”, opina o pró-reitor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Vital Martins, um dos debatedores no webinar Horizontes da Educação, que nesta quinta-feira (9) discutiu a retomada das aulas presenciais.
No entender de Martins, as transformações que as escolas tiveram que promover em poucos dias ocorreram em um processo difícil e penoso para todos, mas acabaram mostrando que é possível construir um novo modelo de aprendizagem, mais inovador e com maior protagonismo do estudante. Ele cita em especial a regulação e os sistemas de avaliação.
Várias concessões legais foram feitas, por meio dos pareceres 5 e 11 do Conselho Nacional de Educação (CNE), para não haver prejuízos ao ano letivo em consequência do fechamento das escolas. “A regulação traz grandes ganhos e gostaria de vê-los perpetuados”, diz o professor, ao defender que as regras colocadas extraordinariamente se tornem perenes. Um dos pontos vistos como positivo é o alargamento do conceito de presencialidade, com a realização de aulas síncronas e assíncronas possibilitadas pelas plataformas interativas.
No sistema de avaliação, Martins observa que ficou provado que é possível, de forma criativa e inovadora, medir o conhecimento por outros instrumentos que não a prova. “Sou um apoiador do sistema de avaliação, mas acho que pode avançar. A questão é saber como criar um sistema de a avaliação em nível nacional sem desestimular a inovação, que respeite as diretrizes curriculares. Hoje, fica todo mundo caminhando numa mesma direção e só preparando o aluno para o Enade”.
Na volta às aulas presenciais, o novo normal se imporá também nas formas de relacionamento entre estudantes e professores, como indica o professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Flávio da Fonseca, segundo quem “a retomada presencial vai implicar necessariamente na observação do distanciamento social em todas as circunstancias acadêmicas, com novos comportamentos sanitários”.
O brasileiro, tradicionalmente caloroso e afetivo, terá que abrir mão dos beijos, abraços e apertos de mão. “Essa realidade vai ter que ser alterada e as escolas vão ter que comunicar aos estudantes essa nova realidade. O estudante vai retornar ávido por reencontrar os colegas e pelo calor humano, dar uma abraço nos colegas e ele simplesmente não vai poder fazer isso, observa Fonseca, que também é vice-presidente da Sociedade Brasileira de Virologia (SBV).
Todas as escolas terão que criar no ambiente acadêmico formas mais rigorosas de intervenções higiênicas de limpezas, com cuidados redobrados até mesmo em procedimentos simples, como o uso de bebedouro.
A flexibilização física e cronológica será uma realidade com a qual a Educação deverá conviver por um tempo ainda indeterminado. “Não vamos poder colocar 80 pessoas na sala de aula. Temos que fazer caber em uma sala de aula todo o contingente de alunos sem que eles possam estar lá juntos ao mesmo tempo”, diz Fonseca. Por isso as aulas remotas serão necessárias.
O professor alerta que as instituições de ensino terão que criar formas de monitoramento para impedir a contaminação entre alunos, professores e colaboradores. “Não vai ser possível que nenhuma unidade acadêmica volte sem que ela monte um sistema de monitoramento interno. Isso será complexo, pois ela terá que ter a capacidade de identificar surtos e tomar a decisão do que suspender naquela sala ou mesmo na escola e determinar o que fazer com as atividades presenciais”, resumiu o professor, ao falar da importância da criação de protocolos para estabelecer as diretrizes.